Definitivamente, ‘Godzilla Minus One’ é o melhor filme da franquia septuagenária (e também de 2023)

O retorno triunfal do Rei dos Monstros aos cinemas brasileiros | Divulgação: Toho/Sato Company

Após quase meio século sem um filme japonês do Rei dos Monstros nos cinemas brasileiros, Godzilla Minus One quebrou esse jejum com sua estreia nacional no último dia 14 de dezembro. O longa antecipa as comemorações de 70 anos da franquia, que serão completadas em 3 de novembro de 2024 (para não chocar com a estreia de Godzilla e Kong: O Novo Império, nova sequência da saga MonsterVerse que estreia mundialmente em abril de 2024).

Além disso, o novo filme vem agradando bastante à crítica internacional e já quebrou recorde de bilheteria nos EUA, superando Herói, filme de 2004, estrelado por Jet Li e dirigido por Zhang Yimou (o mesmo de A Grande Muralha).

Algo parecido já acontece aqui no Brasil, com Godzilla Minus One em segundo lugar nas bilheterias do Brasil, neste fim de semana de lançamento. Isso pode significar um divisor de águas para a Sato Company, que distribui o filme no Brasil e que pode adquirir direitos de outros filmes do kaiju, além de uma possível renovação dos direitos do clássico Cybercop – Os Policiais do Futuro, caso os números de bilheteria sejam satisfatórios para a Toho.

Godzilla Minus One se passa nos primeiros anos pós-Segunda Guerra Mundial, onde o Rei dos Monstros aparece pela primeira vez (considerando que há uma possível ligação com o filme original de 1954, segundo o chefe de planejamento da Toho, Hisashi Usui, em uma recente coletiva de imprensa) devastando tudo e todos pela frente – sim, ele está muito mais furioso como nunca vimos antes.

O protagonista Shikishima, vivido por Ryunosuke Kamiki (de Kamen Rider Agito e Samurai X) | Divulgação: Toho/Sato Company

Já que Godzilla foi criado pelo saudoso Eiji Tsuburaya (também criador de Ultraman) como uma metáfora das consequências dos ataques a Hiroshima e Nagasaki, isso foi bem materializado em Minus One. Ou seja, se para os japoneses as consequências da guerra foram terríveis, então como lidar com um monstro gigante que pode matar dezenas de milhares de pessoas com um ataque nuclear?

Como todo bom filme de Godzilla, o núcleo humano é obrigatório, pois é justamente ele que ajuda a engrenar a trama. E não é diferente, a não ser pelo cenário pós-guerra. O protagonista Koichi Shikishima, um ex-piloto kamikaze, possui uma grande motivação para derrotar o monstro gigante, ao mesmo tempo em que tenta ajudar a jovem vítima Noriko Oishi a cuidar de uma menina.

Há um momento ou outro bastante com drama, que busca, de alguma forma, representar o Godzilla como uma ferida que demorou para cicatrizar nos japoneses da época. Para alguns dos personagens, especialmente Shikishima, a guerra ainda não acabou e só teria fim quando o gigante fosse derrubado de vez.

Godzilla Minus One contou com efeitos do Takashi Yamazaki que deixaram os ataques do kaiju bem realistas. Durante 3 anos, ele escreveu o roteiro com influências do primeiro filme de Godzilla, além de Godzilla, Mothra e King Ghidorah (2001; inédito no Brasil), e até o clássico Tubarão (1975; de Steven Spielberg) e filmes de Hayao Miyazaki.

Godzilla aparece muito mais furioso do que antes | Divulgação: Toho/Sato Company

Todo esse conjunto, somado a uma sequência de adrenalina e surpresas, fazem de Godzilla Minus One o melhor filme da franquia até hoje. A Toho está provando mais uma vez para o mundo o poder colossal do Rei dos Monstros, que continua transcendendo na história do tokusatsu e principalmente da cultura pop em geral. E sim, o filme é uma resposta sobre nossa admiração por filmes kaiju e tokusatsu, que carrega uma moral: há sempre uma barreira a ser superada em meio às adversidades da vida.

O elenco se destaca por nomes que já atuaram em produções recentes. Só pra citar: Ryonosuke Kamiki, que interpretou Shikishima no filme, havia interpretado Seta Kojiro em alguns filmes live action de Samurai X. Curiosamente, ele interpretou a versão dos Overlords da Luz e das Trevas na série Kamen Rider Agito (2001), além de uma participação no episódio 36 de Abaranger (2003; versão original de Power Rangers Dino Trovão).

Yuki Yamada, que viveu como Shiro Mizushima, um jovem tripulante a bordo do Shinsei Maru, é conhecido pelos fãs da franquia Super Sentai por interpretar o pirata Joe Gibken/Gokai Blue na série Gokaiger (2011; versão original de Power Rangers Super Megaforce) e por ser emprestar sua voz para Ken Sato, o hospedeiro de Ultraman na vindoura animação Ultraman: A Ascensão, que estreia na Netflix em 2024.

Munetaka Aoki, que viveu como Sosaku Tachibana, ex-técnico do Serviço Aéreo da Marinha, foi o Sanosuke Sagara nos filmes live action de Samurai X.

Estrela do filme Shin Kamen Rider, a promissora atriz Minami Hamabe se destaca em Minus One como Noriko | Divulgação: Toho/Sato Company

E quem brilhou em Minus One foi certamente a jovem atriz Minami Hamabe, como Noriko Oishi, a parceira de Shikishima. Hamabe se destacou recentemente no tokusatsu por interpretar Ruriko Midorikawa, no filme reboot Shin Kamen Rider (2023; atualmente disponível com exclusividade no Prime Video).

Se Minus One foi excelente, a dublagem carioca é também um show à parte. A versão brasileira da Midia P (Alcateia) contou com dubladores que marcaram algumas séries tokusatsu com suas vozes.

É o caso de Fernanda Baronne (Karone/Astronema em Power Rangers no Espaço e Power Rangers na Galáxia Perdida) como Noriko Ōishi, Eduardo Borgerth (Dai Sawamura em Shaider e Daigo Madoka em Ultraman Tiga) como Yōji Akitsu, Flávia Saddy (Cassie em Power Rangers Turbo e Power Rangers no Espaço) como Sumiko Ota.

Outro destaque fica para o competente Rafael Pinheiro, que emprestou sua voz para Tachibana, além de ter dirigido a dublagem. Por ser bastante fã de tokusatsu, ser autor do projeto YouDubb (onde ele criava versões brasileiras de temas de tokusatsu) e ter uma boa relação com os dubladores cariocas, Pinheiro comandou uma versão de altíssimo nível, que tem potencial para atrair mais pessoas a terem contato com Godzilla.

O Rei dos Monstros anuncia seu ataque contra Tóquio | Divulgação: Toho/Sato Company

Sem dúvida, a Toho está em um excelente momento para retomar novas produções da franquia no futuro próximo. Sem dúvida, Godzilla Minus One o melhor filme da trajetória do monstro e também de 2023. Com certeza vai superar as expectativas de quem for assistir no cinema, independentemente do espectador ser ou não um fã inveterado de kaiju, tokusatsu ou coisas do tipo.

Aproveite enquanto o filme está em cartaz e não se arrependerá.

Autor: César Filho

Sou César Filho e desde pequeno acompanho séries japonesas, especialmente do gênero tokusatsu. Em 2013, lancei o Blog Daileon, meu espaço autoral onde comento sobre as principais produções da cultura pop japonesa. Incluindo animês como Os Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e Gundam; e tokusatsu como Jaspion, Kamen Rider e Ultraman. Entre 2013 e 2017, fui palestrante em eventos como Sana e Anime Master, sediados na cidade de Fortaleza, capital do Ceará. De 2018 a 2023, fui redator e colunista do JBox, um dos principais sites especializados em cultura pop japonesa no Brasil. Em 2024, o Blog Daileon estará de cara nova e ânimos reforçados. E, é claro, com o mesmo propósito de entreter os fãs de tokusatsu e explorar o legado destas produções com 70 anos de história no cinema e na TV. Let’s Change!

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