Novo ‘Yu Yu Hakusho’ não teria graça sem os bordões da dublagem clássica

O quarteto formado por Hiei, Yusuke, Kurama e Kuwabara | Divulgação: Robot/Netflix

A tão aguardada adaptação do mangá/animê Yu Yu Hakusho para live actionestreou finalmente com exclusividade na Netflix no último dia 14 de dezembro – coincidentemente a mesma data do lançamento do filme Godzilla Minus One nos cinemas brasileiros. A série original estreou no Brasil pela extinta Manchete em 24 de março de 1997, se tornando um dos maiores sucessos da história da emissora carioca, se destacando tanto pelo enredo quanto pela trilha sonora nacional e também por bordões bem brasileiros em alguns diálogos.

Até hoje, Yu Yu Hakusho é um dos títulos mais aclamados por quem viveu e/ou aprecia os anos 90. E com certeza o live action transmite toda aquela nostalgia da época para antigos e novos fãs do time liderado pelo detetive sobrenatural Yusuke Urameshi.

A Netflix guardou até o último minuto os detalhes sobre a adaptação em si. No total, são 5 episódios (cada um com menos de uma hora de duração) que adaptam o arco do Detetive Sobrenatural, que originalmente vai até o resgate de Yukina. Mas alguns elementos vistos na saga do Torneio das Trevas são adiantados, como, por exemplo, a aparição de Bui e Karasu, dois dos membros do Time Toguro (que nunca apareceram na mansão de Gonzo Tarukane).

Seria impossível abordar todos os pontos dos primeiros 51 capítulos do mangá, ou melhor, dos primeiros 25 episódios do animê de 1992, numa quantidade considerável de episódios. A divisão da trama foi bem distribuída, resolvendo a situação da morte e ressurreição de Yusuke no primeiro episódio, com uma dose a mais de ação.

Outra coisa que chama atenção é como o live action consegue conectar situações que acontecem em diferentes pontos do animê, criando um paralelo do que está para acontecer em seguida. Por exemplo, quem viu o animê, provavelmente vai distinguir o caso dos roubos dos elementos espirituais (Bola Gaki, Espelho das Trevas e Espada das Trevas) com a primeira aparição de Toguro, mostrando seu poder de 30%.

Ou seja, esse novo Yu Yu Hakusho procura resumir as primeiras sagas da obra de Toshihiro Togashi sem grandes pretensões, já que a adaptação é, aparentemente, uma trama fechada. Tudo se justifica pelo foco da produtora Robot Communications (a mesma de Minus One, em parceria com a Toho) em desenvolver os personagens e a ação de cada episódio, com direito a um clímax bem convincente (com exceção de uma cena de perseguição que não acrescenta em absolutamente nada).

O elenco principal é formado por atores que tiveram passagens em tokusatsu. É o caso de Takumi Kitamura (Yusuke), que já esteve no episódio 29 de Tomica Hero: Rescue Fire (2009). Shuhei Uesugi (Kazuma Kuwabara) e Kanata Hongo (Hiei) estiveram no filme Shin Kamen Rider (2023; atualmente disponível no Prime Video). E Jun Shison (Kurama), que é um velho conhecido por fãs de Super Sentai por interpretar Right Suzuki/ToQ 1-go na série ToQger (2014).

Kenichi Takito (o Toguro irmão mais velho) esteve nos filmes Godzilla: Tokyo S.O.S. (2003), em Samurai X 2 e 3 (ambos de 2014), além de emprestar sua voz para Futaros no filme Kamen Rider Heisei Generations Forever (2018). E Go Ayano (o Toguro irmão mais novo) esteve no primeiro filme de Samurai X (2012), foi Joe o Condor no live action de Gatchaman (2015), além de ter vivido como Aki Sawada, o Orphenoch Aranha na série Kamen Rider 555 (Faiz, 2003; atualmente disponível no Prime Video).

Mas, para nós brasileiros, o que seria desse live action sem a presença de boa parte do elenco carioca das duas versões da Audio News (de 1997 e 2004)? Com certeza não haveria o mesmo engajamento sem ouvir Marco Ribeiro como Yusuke, Christiano Torreão como Hiei, Duda Ribeiro como Kurama, Mirian Ficher como Botan, Peterson Adriano como Koenma, Luiz Feier Motta como Toguro mais velho e tantos outros.

A falta mais sentida com certeza é do saudoso José Luiz Barbeito (falecido em 2018) como Kuwabara, sendo substituído por Marcelo Garcia, que interpretou muito bem.

Aliás, foi uma grata surpresa da dublagem do live action de Yu Yu Hakusho resgatar os inesquecíveis bordões brasileiros, ditos por Yusuke, como “Rapadura é doce, mas não é mole não”, “Vou mostrar que berimbau não é gaita”, “Tô na área, se derrubar é pênalti”, entre outros.

É claro que o live action de Yu Yu Hakusho não supera o animê, mas é tão bom quanto, principalmente se o espectador assistir na versão brasileira. É uma nostalgia e tanto, onde o fã mais antigo certamente vai apreciar sem problemas em uma ou duas sentadas. Agora, que saudade de rever o animê com as icônicas dublagens, hein.

Autor: César Filho

Sou César Filho e desde pequeno acompanho séries japonesas, especialmente do gênero tokusatsu. Em 2013, lancei o Blog Daileon, meu espaço autoral onde comento sobre as principais produções da cultura pop japonesa. Incluindo animês como Os Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e Gundam; e tokusatsu como Jaspion, Kamen Rider e Ultraman. Entre 2013 e 2017, fui palestrante em eventos como Sana e Anime Master, sediados na cidade de Fortaleza, capital do Ceará. De 2018 a 2023, fui redator e colunista do JBox, um dos principais sites especializados em cultura pop japonesa no Brasil. Em 2024, o Blog Daileon estará de cara nova e ânimos reforçados. E, é claro, com o mesmo propósito de entreter os fãs de tokusatsu e explorar o legado destas produções com 70 anos de história no cinema e na TV. Let’s Change!

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