Ashita no Joe 2 – a saga do mensageiro do inferno na Crunchyroll

championjoe2
Joe Yabuki contra o campeão mexicano Jose Mendonza (Foto: Divulgação/Crunchyroll)

Há 50 anos surgia nas páginas da Weekly Shonen Magazine um mangá esportivo sobre boxe que inspiraria gerações e marcaria a cultura pop japonesa. Em 1 de janeiro de 1968, a revista da editora japonesa Kodansha publicava o primeiro volume de Ashita no Joe. A série teve ao todo 20 volumes publicados até maio de 1973, vendeu cerca de 20 milhões de exemplares e se tornou uma franquia formada por séries e filmes de animê. Tendo MEGALOBOX como sua produção mais recente.

A obra foi criada pelo falecido Asao Takamori ou mais conhecido peo pseudônimo Ikki Kajiwara (1936~1987). Ele roteirizou outras séries de mangá, principalmente de esportes como Tiger Mask , Kyojin no Hoshi e especialmente Sawamu – O Demolidor (exibido no Brasil via TV Record). As ilustrações do mangá Ashita no Joe foram de Tetsuya Chiba, autor de clássicos como Harris no Haze, Akane-chan e Kaze no Yo-ni.

kajiwara
Ikki Kajiwara em 1974

Ashita no Joe (ou “Joe do Amanhã”) conta a saga de Joe Yabuki. Um jovem que fugiu de um orfanato e passou a vagar pela favelas de Tóquio. Em seu caminho surge o ex-boxeador Danpei Tange que passa a treiná-lo para ser um boxeador profissional. Nesse meio tempo, Joe é preso temporariamente por infração e na penitenciária conhece Rikiishi, que no passado teve seus dias glória nos ringues.

Nascia ali uma rivalidade entre os dois, fazendo com que eles travem uma luta dentro da prisão. Os dois prometem se encontrarem novamente para um duelo, desta vez como profissionais do boxe. Rikiishi dá a volta por cima com a ajuda de Yoko Shiraki, uma jovem rica que procura ter empatia com Joe, embora ele encare sua gentileza como uma falsa bondade. Joe e Rikiishi se enfrentam numa luta histórica. Rikiishi vence Joe após oito rounds. Ao cumprimentar Joe, Rikiishi morre devido à uma hemorragia provocada por um forte soco na têmpora que o levara durante a luta. Após a tragédia, Joe resolve abandonar a carreira e se sente culpado pela morte de seu maior rival.

joe
A rivalidade de Joe e Rikiishi

Esse foi o resumo da primeira série de TV que foi ao ar entre 1 de abril de 1970 e 29 de setembro de 1971. Os 79 episódios foram exibidos pela Fuji TV na faixa das 19h de quarta-feira e produzidos pela Mushi Production. O mesmo estúdio que realizou versões animadas das obras de Osamu Tezuka como Astro Boy, A Princesa e o Cavaleiro, Dororo e Kimba o Leão Branco. A direção ficou a cargo de Osamu Dezaki, que trabalhou também nas adaptações de Tezuka para a TV pelo mesmo estúdio além de títulos de sucesso como Cobra, Ace no Nerae!, Rosa de Versailles e até mesmo no desenho nipo-americano Os Seis Biônicos (exibido no SBT e na Band). Dezaki é co-fundador do estúdio Madhouse. Em Ashita no Joe deixou uma marca que seria seguida por outros animes. Para animar cenas de boxe, Dezaki repetia sequencialmente os momentos de soco, lutas apresentadas em penumbra ou raios e luzes e até golpes que terminavam num quadro congelado que se dissolviam em uma pintura de aquarela.

A primeira série de TV acabou e o mangá prosseguiu. O “fantasma” de Rikiishi ainda estaria bem presente numa então nova série de TV.

O clássico de 1980

Sete anos após a conclusão do mangá, Ashita no Joe 2 estreia na emissora Nippon TV, sempre exibido às 19h de segunda-feira, entre 13 de outubro de 1980 e 31 de agosto de 1981. Osamu Dezaki voltava a trabalhar com o título como responsável pela direção e pelo storyboard. A sequência foi feita em outro casa, a produtora TMS Entertainment (a mesma de Os Cavaleiros do Zodíaco: The Lost Canvas).

Esta sequência começa seis meses depois da morte de Rikiishi. Joe continua abalado pela tragédia. Até que decide voltar aos ringues. As primeiras lutas de Joe após seu regresso foram de grande êxito. Porém os problemas, que aparentemente tinham sumido, ainda estavam à tona.

rikiishi
Ilustração do anúncio da luta entre Joe e Rikiishi

Joe não conseguia mais atingir a têmpora de seus adversários e isso lhe causava um determinado problema de saúde e consequentemente em derrota nos ringues. Esse seria mais um declínio do mensageiro do inferno (assim como também é conhecido no mundo do boxe), até que surge um lutador que reconhece seu potencial e resolve desafiá-lo: o venezuelano Carlos Rivera, que sempre se apresentava aos palcos dançando ao som de uma trilha sonora tipicamente latina.

Joe e Carlos se enfrentam numa luta que marcara a passagem do ano novo. Após o desafio que mobilizou os amantes do esporte, Joe treina incansavelmente após saber que seu mais novo rival perdeu para um lutador chamado Jose Mendoza. Carlos Rivera foi derrotado em apenas um round e isso afetou severamente sua consciência. Tal tragédia motivou Joe a desafiar este campeão e limpar a honra de Carlos.

Para isso, o jovem teve de enfrentar vários obstáculos. Entre eles, os seus próprios peso e fase de crescimento. Para não superar a atuação como lutador de peso-leve, afim de honrar seus antigos rivais que também foram da mesma modalidade de boxe. Antes de enfrentar Jose Mendoza, Joe tem que passar por vários lutadores profissionais e perigosos para se preparar para mais um grande desafio de sua vida. Isso inclui um treinamento rigoroso que Rikiishi teve que enfrentar para vencê-lo no passado.

yoko
Joe e Yoko no Hawaii; cena destacada no segundo encerramento de Ashita no Joe 2

Os primeiros 25 episódios de Ashita no Joe 2 tiveram temas principais interpretados por Takeshi Obo. Na abertura ouvimos a eletrizante canção “Kizudareke no Eikou” e no encerramento a contemplativa “Hateshinaki Yami no Kanata ni”. O restante da série contou com as canções de Ichiro Araki com o clássico “MIDNIGHT BLUES” e a segunda versão de “Hateshinaki Yami no Kanata ni”. Esta versão do tema de encerramento tinha uma pegada mais jazzista e destacava Joe e Yoko, que tinham uma relação cheia de altos e baixos devido ao forte temperamento do lutador e da jovem rica que passou a administrar uma academia de boxe e tentar ajudar o rival de Rikiishi como gratidão — ao mesmo tempo que esconde uma paixão por Joe.

joe50
Arte de divulgação do evento comemorativo de 50 anos de Ashita no Joe que aconteceu no Japão entre abril e maio de 2018

Em tempos de canais oficiais de streaming, a TMS distribui parte de suas séries para o catálogo da Crunchyroll. O que possibilitou a exibição oficial de Ashita no Joe 2 para outros países, inclusive o Brasil, desde 24 de março de 2014. No Brasil, a série estreou na mesma data, porém apenas com legendas em inglês. As legendas em português foram disponibilizadas em 17 de julho do mesmo ano — um mês antes do aniversario da luta entre Joe e Jose Mendonza, passando então a integrar oficialmente o catálogo brasileiro do serviço.

O mangá completa 50 anos de lançamento em 2018 e esta é uma ótima oportunidade de acompanhar um dos maiores clássicos da animação japonesa. Um retrato de força e superação de obstáculos no caminho tortuoso e cheio de espinhos que é o boxe.

O legado de Ashita no Joe e seu impacto cultural

Antes da estreia de Ashita no Joe 2, a TMS lançou um filme em 8 de março de 1980. Trata-se de um remake onde resumia os principais eventos da série anterior, afim de familiarizar o novo público com a trama. Ainda com a série em exibição na TV japonesa, Ashita no Joe 2 ganhou um filme em 4 de julho de 1981. Nada novo: apenas uma copilação dos primeiros episódios até a luta de Joe contra Carlos Rivera.

Como parte da trilha sonora do primeiro filme, a canção “Beautiful Wolves” ganhou várias interpretações até hoje como simbolo de determinação/superação. Como destaque, a inconfundível voz de Ichiro Mizuki (cantor de Spielvan e Metalder) foi responsável por uma versões para o seu próprio álbum de outubro de 1982. Confira:

Joe Yabuki é um personagem que inspirou os jovens que acompanharam sua trajetória no mangá e na TV. Em abril de 2012, Yabuki foi eleito entre o público como o décimo maior herói japonês. Perdendo apenas para personagens como Ultraman, Ultraseven, Goku, Astro Boy, Kamen Rider, Lipin III, entre outros. Além de figurar o top 3 entre os favoritos entre homens com 60 anos de idade ou mais. Esta pesquisa foi encomendada na época pela Fuji TV. Mais detalhes neste texto escrito pelo mestre Alexandre Nagado.

funeral
O funeral de Rikiishi.

O impacto de Ashita no Joe foi tão forte na cultura pop japonesa que gerou um marco inusitado para quem é leigo, mas um gesto respeitoso para os fieis espectadores. A morte de Rikiishi rendeu um funeral público formado por centenas de fãs que se uniram nas ruas para dar o último adeus ao maior rival de Joe Yabuki.

Tributo de sucesso no Brasil

Entre 5 de abril e 28 de junho deste ano, a emissora japonesa TBS exibiu nas madrugadas de quinta para sexta a série MEGALOBOX. Um tributo aos 50 anos de Ashita no Joe que agitou os mais ávidos por novas séries de animê nesta temporada da primavera japonesa. MEGALOBOX teve exibição (quase) simultânea garantida pela Crunchyroll e todos os 13 episódios podem ser assistidos a qualquer hora no canal de streaming.

megalobox
MEGALOBOX, um tributo ao cinquentenário de Ashita no Joe

Essa releitura se passa num futuro onde um motoqueiro sem destino passa a competir num campeonato de boxe onde o esporte e a tecnologia são aliadas. As referências a Ashita no Joe estão presentes, bem como os principais personagens que servem contraparte dos da série original de Ikki Kajiwara. O mangá de MEGALOBOX foi publicado semanas antes da série de TV em 17 de fevereiro de 2018.

Um fato curioso é que MEGALOBOX foi o animê mais assistido no Brasil desta temporada, segundo dados da própria Crunchyroll. Foram ao todo 20 estados brasileiros e no ranking dos cinco mais assistidos na sequência estão Alagoas, Sergipe, o Distrito Federal, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O Nordeste e o Sudeste foram as regiões onde todos os estados tiveram MEGALOBOX como a série mais assistida pela plataforma. Sword Art Online Alternative: Gun Gale Online apareceu no topo dos estados do Amapá, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Santa Catarina. Já Persona5 apareceu somente no topo do Acre.

Assista o vídeo de comemoração dos 50 anos de Ashita no Joe ao som de “Midnight Blues”:

Visite a página oficial dos cinquentenário de Ashita no Joe aqui.

Autor: César Filho

Sou César Filho e desde pequeno acompanho séries japonesas, especialmente do gênero tokusatsu. Em 2013, lancei o Blog Daileon, meu espaço autoral onde comento sobre as principais produções da cultura pop japonesa. Incluindo animês como Os Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e Gundam; e tokusatsu como Jaspion, Kamen Rider e Ultraman. Entre 2013 e 2017, fui palestrante em eventos como Sana e Anime Master, sediados na cidade de Fortaleza, capital do Ceará. De 2018 a 2023, fui redator e colunista do JBox, um dos principais sites especializados em cultura pop japonesa no Brasil. Em 2024, o Blog Daileon estará de cara nova e ânimos reforçados. E, é claro, com o mesmo propósito de entreter os fãs de tokusatsu e explorar o legado destas produções com 70 anos de história no cinema e na TV. Let’s Change!

Deixe um comentário